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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Uma madrugada e meia




Uma madrugada e meia. Tempo insuficiente para me corroer por dentro com o objetivo de me punir pelos meus erros. É o tempo de perder o sono por motivos sérios - ou não tão sérios assim - e ser prejudicada por essa perda.
Insultos e sons de choro ecoam na minha mente junto às lembranças que já não sei se prestam. Tudo gira, como se todos os pensamentos simulassem o movimento de um carrossel, cada vez mais rápido e menos compreensível. De repente, tudo se desliga.

Aparentemente, já é dia. Levanto da cama e cambaleio até o espelho, onde enxergo uma menina descabelada e assustada, meio sonolenta. O sono se acumula em suas olheiras, que a acompanham desde seus oito ou nove anos.
A menina do espelho está assustada porque perdeu a noção do tempo. Ela tem mil defeitos e aponta cada um deles, lamentando por todos. Ela quer sumir. Há alguns anos parecia ser mais doce e viva, apesar da anemia aparente e da solidão, que eram as duas constantes de sua vida.
Hoje sua expressão é de culpa, dor e preocupação.

Me deito novamente e os pensamentos voltam a rodar na minha cabeça. Nada mais se encaixa, nada mais faz sentido. Não vejo motivos para levantar e encarar o mundo que existe fora das paredes do meu quarto.
Tudo é motivo para sofrer e sentir que estou sumindo aos poucos, cada vez mais amargurada, fora de mim.
O tempo voa.

Duas madrugadas. Já não sei se sou capaz de consertar todos os enganos e continuo me ferindo, me culpando e me forçando a acreditar que isso tudo é fruto daquilo que chamam de karma.
E tudo se renovará quando o "efeito karma" acabar.